O dia em que fui ao Júri do Casal Nardoni
O relógio despertou às cinco horas da manhã. Virei a cabeça, estiquei o braço tateando o escuro até alcançar o celular à minha direita. Ainda sonolento sentei na cama e apertei os olhos por duas vezes na tentativa de enxergar às horas. Era o dia no qual, enfim, assistiria ao julgamento de um caso que comoveu o País. Para mim um laboratório de extrema importância.
Antes das oito horas da manhã cheguei ao Fórum de Santana e encontrei-me com a Fernanda, colega de classe da Universidade Anhembi Morumbi. Algumas pessoas se acomodavam na fila com a mesma finalidade: assistir ao julgamento do casal Nardoni.
Fernanda e eu
O sol ardia sobre nossa cabeça, mas a expectativa em acompanhar o júri superava o cansaço e o desgaste. O primeiro grupo de 14 pessoas entrou e, nos intervalos do julgamento, não saiu para outro grupo entrar. Uma pena este comportamento, pois impossibilitou outras pessoas de assistirem. O dia seguiu tenso sob o sol forte de pé numa fila com pessoas desacreditadas.
Profº LFG
O tempo passou e a noite ameaçava o dia com sua sombra de dúvida e as horas se esgotavam dentro do Júri. O clima era tenso e, pela primeira vez, tínhamos dúvida se conseguiríamos entrar naquele tão esperado julgamento.
Momento de calmaria na entrada da porta Fórum
Tudo calmo na entrada do Fórum
Muitos jornalistas trocando imformações no intervalo do Júri
Confusão na chegada do advogado de defesa Dr. Roberto Podval
Os jornalistas invadiram a frente do Fórum, o que era proibido
A polícia militar e a segurança tendo muitos problemas para organizar a confusão
A notícia triste veio pela imprensa que se acotovelava na lateral da entrada do Fórum: o juiz decidira não fazer outro intervalo e encerraria a sessão mais cedo. O clima ficou tenso. As pessoas da fila, incrédulas, pareciam frustradas, mas não desistiram e continuaram ali de pé com a esperança de conseguir entrar no plenário. Fernanda e eu, ainda esperançosos e com expectativa em ver o Júri, tentamos a cartada final.
Decidimos subir até o terceiro andar onde acontecia o julgamento.
O formato em seta de minha gravata parecia apontar o caminho da entrada, e entramos com confiança. Estava tenso. Passamos a primeira barreira e não fomos abordados. Ufa! Falta pouco. Será agora? Alcançamos o elevador. A primeira barreira ficou para trás.
No visor do elevador apontava o terceiro andar. O coração acelerou e a porta do elevador se abriu. O piso de mármore ganhou a sola de nossos pés, o plenário estava próximo. Algumas raras pessoas estavam por ali, pareciam confiantes e muito “familiares”. Cesar Tralli e José Roberto Burnier, ambos credenciados para assistir ao Júri na ala dos jornalistas, entravam e saiam afoitos e apressados, sempre com o celular na orelha. Falavam com seu interlocutor e gesticulavam muito. Glória Perez passou por nós. Seus passos eram firmes e apressados. Parecia interessada em não perder um minuto sequer daquela audiência.
Ao fundo o corredor do Júri. Não era permitido fotografar, mas o celular pipocou sozinho do bolso do paletó e fez esta única imagem da entrada
A audiência continua. Nossa expectativa estava mais forte. A avó materna da menina Isabella saiu e cumprimentou algumas pessoas que estavam próximas da gente. Entramos em um lugar privilegiado, mas não era o nosso lugar privilegiado.
Aproximamos da “barricada” montada pela segurança no corredor que dava acesso ao Tribunal do Júri. Passei e dirigi-me à pessoa que fazia o controle de entrada. O segurança estalou os olhos e suas meninas acompanhavam meus passos como a águia acompanha suas vítimas. Ignorei-o. Tinha que demonstrar confiança.
A gravata de seda continuava mostrando-me o caminho com sua seta perfeitamente costurada em “V”. No peito o coração disparou, os poros dilataram-se. Suava, mas estava cheio de confiança. Fernanda aguardou-me próximo a barricada, estava tensa e preocupada. A ansiedade em entrar superava o medo de ser expulso.
Aproximei. Com postura e segurança no que estava fazendo falei com esta pessoa. O segurança com olhos esbugalhados fez bico, a pessoa do controle tensa e cansada informou e o juiz encerrou a sessão daquele dia antes do esperado, conforme relatado por jornalistas tempos atrás.
Infelizmente, faltou pouco para o nosso objetivo, mas foi útil e aprendi que sempre temos que aprender com as pessoas. Qualquer delas. Sejam aqueles que não saíram para que outros pudessem entrar e acompanhar o Júri ou com todos aqueles que esperavam o “grand finale”.
Àqueles que entraram meus parabéns! Conseguiram participar de um mega e importante laboratório de envergadura nacional, uma experiência sem precedentes que chamou atenção de toda a sociedade que clamou por justiça todos os dias que se seguiram aquela trágica noite.
A justiça foi feita e o casal mais famoso do País foi considerado culpado pelos jurados para alegria de muitos e tristeza de poucos.
Alexandre pegou 31 anos, um mês e 10 dias de prisão por homicídio triplamente qualificado: por ter sido usado meio cruel, recurso que dificultou a defesa da vítima, pelo fato de ter sido cometido contra menor de 14 anos e agravado por ser contra descendente e para garantir a ocultação de crime anterior.
Já Anna Carolina foi condenada a 26 anos e oito meses de prisão, por homicídio triplamente qualificado, cometido contra menor de 14 anos, e mais oito meses pelo crime de fraude processual, em regime semiaberto.
3 comentários:
Oie! Adoro ler o que vc escreve e a forma como escreve me fez viajar até o dia do fato. Acompanhei vc na fila pela TV e foi o maior barato. Fiquei torcendo muito pra vc assistir ao júri.
Vc será um grande jurista e escritor.
Parabéns!
beijocas da sua fã número 1
Aliásssssssssssss, grande escritor vc já é!!!
Obrigado Dani Bin!!! rs
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