Alexandre Henry Alves foi aprovado em três concursos para juiz em apenas um ano
Olá, Galera da blogosfera! Como vai?
A história deste post é para levantar o ânimo daqueles que estão "caídos", desanimados e desencorajados, como se alcançar e tocar o Céu fosse algo muito difícil de se conseguir ou algo para poucos privilegiados. Não é bem assim!
Veja o depoimento que Alexandre Henry Alves, hoje Juiz Federal Titular da 2ª Vara Especial Federal em Porto Velho (RO), deu em 2007 no CorreioWeb explicando como fez para passar em três concursos para Juiz, considerado um dos mais difíceis do Brasil, em apenas um ano. Fantástica história de superação!
Alexandre Henry ao lado das servidoras Eliane Rezende e Alba Valéria (5ª Vara)
Pessoal,
Estou escrevendo no CorreioWeb talvez pela última vez. Por isso, a extensão desse depoimento – gigantesco mesmo! Na verdade, depois de mais de um ano “ligadão” em concursos, preciso desligar um pouco. E uma das maneiras de fazer isso é diminuir a quantidade de acessos a esse vício que todos nós concurseiros temos, o CorreioWeb. Por isso, um desabafo final sobre essa longa jornada.
Estou escrevendo no CorreioWeb talvez pela última vez. Por isso, a extensão desse depoimento – gigantesco mesmo! Na verdade, depois de mais de um ano “ligadão” em concursos, preciso desligar um pouco. E uma das maneiras de fazer isso é diminuir a quantidade de acessos a esse vício que todos nós concurseiros temos, o CorreioWeb. Por isso, um desabafo final sobre essa longa jornada.
Gostaria de transmitir o que eu vivi e senti desde que resolvi estudar para valer, lá por fevereiro ou março do ano passado.
Em 2003, eu fui aprovado para a PFN, mas confesso que foi muito mais por conta do excelente conhecimento que eu tinha das matérias de Direito Público, especialmente Tributário, do que qualquer outra coisa. Aliás, fiquei por um ponto na primeira fase e só avancei no concurso porque anularam algumas questões. Foi um período complicado, um concurso difícil, porque eu acabei indo para a segunda fase, tive as provas abertas corrigidas e passei, mas ainda não tinha me formado. Aí, foi uma batalha para conseguir a abreviação de curso (para quem não sabe, há uma previsão legal na Lei de Diretrizes e Bases da Educação), mas consegui e tomei posse. Foi tanta luta que só Deus mesmo para me dar força. Passar no concurso foi o menos complicado, confesso, perto do esforço para me formar e para superar o indeferimento da inscrição. Tudo deu certo e o meu mandado de segurança, graças a Deus, já transitou em julgado, se bem que agora isso não importa muito.
Em 2004, comecei a estudar para o MPF. Foram cinco meses de esforço, algo como umas três horas por dia. Não passei nem na primeira fase. Fiz o mínimo nos grupos, mas fiquei na média. Para ser bem honesto, hoje eu agradeço por não ter passado. Primeiro, porque também tive que ajuizar um mandado de segurança e só fiz a prova com uma liminar. Não agüentaria passar novamente por toda a angústia que vivi na PFN. Além disso, eu aprendi ao longo dos anos que todos nós temos um perfil. Naquele ano mesmo de 2004, percebi que o meu perfil não era para o Ministério Público. É uma carreira muito bonita, mas seria quase como me colocar para trabalhar em um pronto socorro. Por mais que o trabalho seja abençoado ali, não é a minha área. E a gente não dá o melhor de si quando está fora do próprio contexto.
Mas, a lição mais importante daquele concurso foi ver que eu tinha estudado errado. Fiquei lendo grandes livros de doutrina, tentando captar o pensamento dos mestres e dos renomados escritores. Quando chegou na hora da prova, muita coisa eu não tinha visto.
Parei de estudar, porque veio a questão dos três anos e eu tinha prometido para mim mesmo que nunca mais faria um concurso com base em uma liminar. Além disso, percebi que de vez em quando a gente precisa dar um passo atrás para seguir em diante – com o perdão da frase batida. Concentrei-me mais no trabalho, no casamento e esqueci os livros.
No final de 2005, eu já sabia que o meu destino era novamente encarar os estudos, porque eu tinha uma meta a atingir. Estranho que, quando eu era pequeno, repudiava a possibilidade de ser funcionário público. Mas, sempre dizia que se um dia eu fosse um, seria um juiz. Só fui me lembrar disso muitos anos depois... Bem, mas eu virei um funcionário público com 19 anos, nunca trabalhei na iniciativa privada e ainda não tinha conseguido chegar aonde eu previra quando adolescente.
Entrei em 2006 decidido a estudar. Deixei minhas aulas no cursinho, meu xodó que eram as aulas na especialização, racionalizei meu trabalho, deixei de auxiliar em um setor na PFN que era uma maravilha de local para trabalhar e fiquei apenas com as minhas comarcas e varas federais. Minha esposa entendeu que era hora e me deu muito apoio, o que foi fundamental. No final de fevereiro do ano passado, comecei a estudar, mas só engrenei mesmo em meados de março de 2006.
Eu sempre gosto de tirar lição das coisas. E a lição que eu tirei do concurso de 2004 do MPF foi que eu tinha estudado errado. Minha maneira de aprender não era lendo aqueles livrões. Lembrei-me do vestibular na USP, como eu tinha me preparado: começando pelo básico de cada uma das matérias, concentrando-me nas aulas desde o primeiro dia e, principalmente, fazendo muitos exercícios.
Mais do que isso, lembrei-me do Robson, professor do IBET que um dia falou uma obviedade nunca antes por mim percebida. É possível ser médico sem analisar diretamente um corpo humano? Aprende-se medicina sem dissecar diretamente o objeto de estudo da área, ou seja, o corpo humano? Não! Então, como aprender direito sem tomar contato direto com as leis? Ler livros e mais livros doutrinários sem nunca ter lido completamente o Código Civil? Aprender pelo que os outros dizem das leis, sem raciocinar diretamente sobre elas?
Enfim, formulei um sistema inicial de estudo baseado na leitura da legislação seca. Chato, cansativo, mas a gente se acostuma. E vai percebendo que pode formular idéias próprias sobre Direito Civil, Constitucional, etc. Não precisa ficar só nessa de “tal autor disse isso”, aquele disse aquilo... Não, se você lê a lei, aprende a analisá-la diretamente. Também comecei a fazer exercícios fechados, provas objetivas. Ora, se eu não tinha passado nem na primeira fase do MPF, era porque eu não sabia lidar direito com aquelas provas.
Li toda a legislação seca. Fiz muitas e muitas questões fechadas. Pegava as provas nos sites da OAB, que são uma excelente fonte. Todo ano, há três exames da OAB. E há OAB em todos os Estados, quase todas fazendo provas diferentes. Assim, eu tinha um sem número de provas atualizadíssimas para fazer. Procurei também em sites de concursos, fiz provas fechadas do MP, da PFN, AGU e muitas da magistratura, especialmente da federal. Percebi que as questões se repetem. Há assuntos que estão mais na moda e acabam caindo na maioria das provas.
Não esperei estar bom de matéria para fazer as questões. Fazia uma prova hoje, não sabia tudo, mas aquela questão que eu tinha errado piscava na memória quando eu lia a lei seca sobre o assunto, ou então resumos.
Isso, resumos. Tem gente que torce o nariz para eles. Mas são importantes, porque dão uma idéia geral sobre a matéria, dão noção de conjunto. Quem pode conhecer tudo sobre os dedos da mão se não tem idéia de que o corpo humano é feito de cabeça, tronco, dois braços e duas pernas? Tem gente que sabe detalhes sobre cada um dos ossos da mão, mas não sabe que na cabeça tem cabelo. Enfim, resumo é muito importante para dar uma idéia geral.
Assim, terceiro ponto do estudo: resumos. Quais? De colegas que chegaram às provas orais, sinopses, etc. Há resumos para todos os tipos e gostos.
Quarto ponto: eu tinha sentido uma tremenda falta de conhecer a jurisprudência, isso na prova do MPF. Mas não era aquele julgamento recente do STF que só quem lê diariamente as notícias de lá sabe. Falo de súmulas mesmo. 50% da jurisprudência cobrada em provas sai das súmulas do STJ e do STF. Então, eu li as súmulas do STJ e do STF. Li uma vez. Li duas. Li três. Por fim, estava quase decorando.
E aqui vai outra dica, dada pelo meu professor Aguinaldo Allemar, de Direito Internacional: se você for ler uma lei ou algo similar para concurso, leia sempre na mesma fonte. Se estiver lendo as súmulas do STJ, leia sempre do mesmo livro ou impresso, porque a memória da gente funciona de forma fotográfica. Às vezes, o conteúdo não está tão claro, mas você resgata a imagem daquele escrito e o conteúdo aparece.
Até agora, nada de doutrina. Mas, eu sentia falta de algumas coisas muito teóricas. Por isso, rendi-me e peguei um livro de doutrina: Direito Penal – Parte Geral. Autor: Fernando Capez. “Ah, mas esse livro não presta, tem tal autor muito melhor, tem aquele outro... “ – muita gente poderia dizer. Mas, para concurso é melhor você pegar um autor que dá uma boa repassada no geral, com linguagem fácil, que expõe as idéias dos outros autores, do que um doutrinador puro, que traz idéias novas. Estes são essenciais para o Direito, são eles que renovam essa ciência tão bonita, mas não são tão eficientes para concurso. Li Capez mesmo, só a parte geral. Uma vez, duas vezes. Algumas partes, três vezes, até eu entender que porcaria era aquela de teoria do crime, o que era uma concausa superveniente relativamente independente. Enfim, esses “entes” da vida que não entram na cabeça da gente.
Li também o livro do Alexandre Moraes, de Constitucional. Dane-se se outros autores são melhores, eu queria ler aquele e pronto. Livro não é só o melhor que a gente tem que ler, mas o que tem a linguagem mais digerível para cada um.
Processo Penal? Não lembro de ter lido nenhum doutrinador. Fiquei com o livro do Pacelli na minha mão e não consegui abri-lo até agora. Depois da maratona de concursos, talvez eu o abra para o exercício da minha profissão. Mas não dava tempo.
Direito Civil? Sim, eu fui à doutrina, apesar de sempre entender que Direito Civil se aprende lendo o código. Li Fiúza, aquele resumão. Sim, todo o Direito Civil em menos de 1000 páginas! Fazer o quê? Não dá para ler Caio Mário, o tempo é curto. Pensei: no dia em que eu precisar no meu trabalho, vou aos grandes nomes da doutrina, para consultar assuntos específicos. Mas agora não tenho tempo.
Processo Civil? Li o Curso Didático de Processo Civil, do Elpídio Donizetti. Todo o Processo Civil em menos de 1000 páginas. O Elpídio é um craque dos concursos e o livro dele não traz nada de doutrinador, mas tem cada esquema gráfico! Tem cada síntese! A maioria o jogaria no lixo, de forma preconceituosa, mas eu li o livro dele. E gostei. Consegui ter uma noção geral do que é o Processo Civil.
Ambiental? Não li nenhum livro, só resumos.
Previdenciário? Depois de algum tempo, fui ler o livro do Marcelo Leonardo Tavares, porque eu era muito fraco na parte de benefícios. Como ele é juiz federal, escreve o que vive na prática. Ideal para a prova de sentença. Mas só li depois da primeira fase.
Tributário? Não li nada. Depois de oito anos da Receita Federal, três na PFN, aulas em cursinhos, aulas na pós-graduação, especialização na matéria, em ao menos uma eu tinha que me dar o luxo de não estudar. Mas li o CTN seco, só por garantia.
Administrativo: só resumos. Eu li algumas partes do livro do Celso Antônio Bandeira de Mello, mas pequenas. Ele é fantástico, um autor maravilhoso. Mas, sinceramente, eu também não tinha tempo para uma obra de tal porte. Tinha no armário também o Carvalho Filho, talvez a melhor para concursos, mas novamente a falta de tempo não me permitiu.
A vida é assim mesmo. Eu tinha que trabalhar na PFN, levar o serviço com responsabilidade e também tinha um lar para dar atenção. Então, tive que fazer uma escolha. E a minha escolha foi deixar a leitura de grandes obras de lado, exceto o que eu falei acima.
No começo do ano passado, quando tinha iniciado os estudos, apareceu o concurso para a magistratura do Estado de Goiás. Resolvi fazer, porque a gente só se sente estimulado para os estudos se tiver uma meta em vista. Pensei: se o concurso andar muito rápido e eu tiver a felicidade de avançar, talvez não tenha os três anos na inscrição definitiva. Mas, e daí? Eu terei pegado o ritmo das provas objetivas, das abertas e das sentenças. Fiz a inscrição.
Levei o estudo com lei seca, súmulas, alguns informativos de jurisprudência, alguns resumos e um zilhão de questões fechadas até fazer a primeira fase em Goiás, no começo de junho. Três meses de estudo intensivo, adotando esse novo método. Ao sair da prova, percebi que meu estudo tinha funcionado. Muita coisa era lei seca, súmulas.
Na semana seguinte à prova em Goiás, mudei a forma de estudar. Eu já tinha lido toda a legislação e estava cansado das súmulas. Quanto aos resumos, estava levando bem. Então, pensei: o que eu vou fazer na segunda fase? Responder questões abertas. Ora, façamos questões abertas!
Foi a minha salvação. Tudo o que eu não tinha visto na doutrina, consegui assimilar fazendo as questões abertas. Bem, tudo não. Mas quase tudo.
“Quais os princípios contratuais do novo Código Civil e qual a mudança de paradigma em relação ao Código de 1916?”
Isso não estava nos códigos e nas leis secas. Também não estava nas súmulas. Talvez estivesse no livro do Fiúza, mas não memorizei. Então, eu olhava uma questão como essa, abria um livro de doutrina e lia rapidamente sobre o tema. Ou simplesmente digitava alguns termos no Google e ia direto para um artigo doutrinário sobre aquilo.
Onde eu pegava as questões? Principalmente nos sites de tribunais. E, como a minha meta era a magistratura federal, decidi resolver tudo quanto era questão de prova aberta dos concursos para juiz federal. Assim fiz. Mais do que isso, concentrei-me na doutrina do tribunal para o qual eu queria prestar definitivamente: o TRF da 1ª Região. “O juiz pode dar uma liminar para uma empresa de ônibus continuar atuando, até que seja feita a licitação?” – perguntava o TRF da 4ª Região em algum concurso. “Deixa eu ver o que o TRF da 1ª Região pensa sobre isso” – eu pensava.
Fiz isso em junho e até meados de julho. No final desse mês, eu teria a primeira fase do TRF da 5ª Região e precisava voltar aos estudos para a 1ª fase. Retornei então e reli algumas partes mais importantes da lei seca, reli as súmulas e fiz mais uma batelada de questões fechadas. O interessante é que a prova do TRF da 5ª Região, na primeira fase, cobrou muita lei seca e jurisprudência, várias sumuladas. Eu sabia exatamente onde estava cada coisa na legislação e, diante da possibilidade de consulta, não perdia tempo: ia diretamente ao ponto. Senti um pouco de dificuldade porque não tinha lido todos os informativos do STF e do STJ e isso me causou algum prejuízo. Mas nada para me tirar dos aprovados para a segunda fase.
É, mas nesse meio tinha justamente a segunda fase de Goiás, em meados de setembro, se a minha memória não falha.
Outra coisa: logo que eu acabasse a prova no TRF da 5ª Região, no final de julho, iria viajar com um amigo para os Andes, mas a Varig quebrou uma semana antes e a viagem foi cancelada... Ah, se eu soubesse que aquele cancelamento de viagem seria crucial para a minha aprovação no TRF 5ª, por me dar mais alguns dias de estudo... Coisas de Deus, que a gente só percebe com o tempo. Ele age de determinada forma que às vezes condenamos, até entendermos que tudo tem suas razões.
Enfim, comecei agosto sem viajar. E, com duas segundas fases em vista: Goiás e TRF 5ª. Este último, com sentenças e questões abertas. Em Goiás, só questões abertas. Pois bem, eu já tinha feito muitos exercícios, mas poucas sentenças. Aliás, quase nenhuma. Comprei então dois livros: 1) Sentença Criminal, de Adauto Dias Tristão; 2) Redigindo a Sentença, do mineiro Elpídio Donizetti (eu tinha que prestigiar o conterrâneo do meu pai, triangulino como eu).
Livros de sentença são importantes para você perceber detalhes. Condenação em custas, estrutura da sentença, relatório, etc. Quem é analista ou juiz não precisa disso. Mas, para quem nunca redigiu uma sentença, é fundamental. Gostei dos dois livros. Quem ensina a fazer sentença é a prática, mas eles dão um caminho.
Pois bem, se é a prática, então vamos às sentenças! Passei agosto fazendo sentenças de concursos para juiz federal, especialmente da 1ª, 4ª e 5ª regiões. Fiz quase todas desses concursos que encontrei. Sempre me baseando na jurisprudência do TRF 1ª, STJ e STF. Em agosto, também fiz mais umas questões abertas.
Nesse meio tempo, vi novamente que Deus faz as coisas de um gente muito especial. Em julho, eu estava atolado de trabalho, na chefia da Seccional da PFN da minha cidade, mas uma colega entrou na minha sala desesperada com a quantidade de processos que ela tinha. Ela estava maluca mesmo! Disse que daria o aumento que teríamos na PFN para quem a ajudasse. Eu sorri, pensando comigo mesmo: caramba, era só o que me faltava! Atolado de trabalho, estudando para concurso e ainda tendo que ajudar...
Aí eu pensei que eu estava errado. Ajudá-la ia me custar muito pouco tempo, porque eram processos de execução fiscal que eu conhecia bem. E ela era muito bacana, uma pessoa nota dez... Peguei uma pilha de processos e a ajudei. Duas semanas depois, ela me chamou à sala dela. Queria me pagar pela ajuda, queria me dar o aumento dela. Aquilo me assustou de um tanto que ninguém imagina! Nunca mais duvidaria de nada que ela falasse... Mas, não poderia aceitar o pagamento. Eu tinha ajudado porque quis ajudar. Só isso. Para ser sincero, nem tinha imaginado que ela estava falando sério quando disse que daria seu aumento para quem ajudasse...
Recusei, educadamente.
Uma semana antes da segunda fase do TRF da 5ª Região, cheguei ao trabalho e encontrei um livro sobre a minha mesa. Tinha um recado da minha amiga, algo como “para não dizer que não te agradeci de alguma forma, um livro para você”. Era um livro sobre as recentes alterações do Processo Civil, do Carreira Alvim (sim, dele!). “Bem, acho que não é demais aceitar esse livro como agradecimento” – pensei. Pena que o concurso estava tão perto...
Peguei o ônibus para Brasília, já que o avião para Recife sairia de lá. Na viagem, resolvi ler o livro ganhado. Li muitas páginas, mas não todas. Parei logo depois de um tema interessante, sobre julgamentos colegiados. Eu já tinha atuado junto ao Conselho de Contribuintes, mas nunca tinha pensando em como se resolveria um caso quando os julgadores divergissem, indo cada um para um lado. E o livro trazia os métodos e técnicas de desempate em julgamentos colegiados, reproduzindo lição de Barbosa Moreira. Cheguei a Brasília e comentei com o meu pai sobre aquilo, perguntando se no trabalho dele aplicavam algum dos métodos.
Fui para Recife. Primeira prova: uma dissertação valendo 60% e quatro questões valendo os outros 40% da prova. Tema da dissertação: voto médio e técnicas e métodos de desempate em julgamentos colegiados.
Deus colocou aquele livro na minha mão. Deus me fez parar a leitura apenas quando cheguei à parte que falava sobre o tema. Mais do que isso, algo que eu só descobri mais tarde: eu tinha parado de ler os informativos do STF em uma edição não tão recente. E a penúltima decisão do último informativo do STF que eu li falava justamente do tema cobrado em uma das questões abertas. Em resumo, Deus pegou na minha mão e disse: meu filho, faz essa prova aí direito que eu estou do seu lado!
No dia seguinte, no TRF 5ª, prova de sentença. Uma de previdenciário (como cai) e outra de penal. Na de previdenciário, adotei uma linha diferente de praticamente todo mundo. Se não fosse a estrutura boa, além de todo o resto, teria dançado. Aliás, tirei uma nota baixa, mas suficiente para, juntando com a nota da sentença de penal, chegar às provas orais.
Aí, percebi algo de provas de sentença. Aliás, algumas coisas: 1) o treinamento de sentenças funciona; 2) saiba jurisprudência federal, se quiser fazer para juiz federal; 3) seja conciso, claro, sem enrolação; 4) acima de tudo, seja rápido e termine a sentença. Rascunho não dá para fazer.
Bem, setembro chegou e tinha a primeira fase do TRF da 1ª Região, meu tão sonhado concurso. Antes, fiz as provas abertas de Goiás. Foram quatro dias. Na manhã de cada uma, relia as questões abertas que eu tinha respondido. Das 20 questões cobradas nos quatro dias, acho que 40% eu reli em cada manhã. Estavam nos meus impressos, nas questões abertas que eu mesmo respondera, e aquilo ajudou muito na hora da resolução.
Primeira fase do TRF 1ª... Lição vital para concursos: durma bem na véspera. Dúvida cruel da minha vida: qual a razão dos pernilongos existirem nesse mundo? Não polinizam nada, não servem para nada. E ainda atrapalham a gente a dormir na véspera do concurso.
Mas, eu estava preparado...
Abri a prova e tomei um susto. Nessa hora, senti falta da doutrina, porque a prova foi absurdamente doutrinária em algumas matérias. Resultado: não fiz o mínimo. Pior de tudo: fiquei por uma questão. Tragédia maior: a questão que faltou foi uma que eu errei ao marcar o gabarito, talvez a mais fácil da prova. Enfim, por errar a marcação do gabarito em um questão, eu tinha dançado.
Deixei de lado o TRF 1ª Região. Nem o livro do Desembargador João Batista, que eu tinha comprado em julho, li. Nem para a primeira fase e muito menos agora, que eu tinha dançado.
Nesse meio tempo, fui aprovado na segunda fase em Goiás e fiz as provas de sentença. Concurso bom, honesto, sem pegadinhas. Sentenças boas, casos práticos, completas, mas sem surpresas.
Falando em surpresa, pouco antes da data marcada para a segunda fase do TRF da 1ª Região, divulgam o resultado dos recursos. Anularam questões e eu tinha ido para a segunda fase...
Eu tinha uma semana para fazer duas coisas: preparar-me para as orais de Goiás, que seriam no dia seguinte ao TRF da 1ª Região, ou me preparar para a segunda fase do TRF 1ª Região. Como o meu sonho era este último, resolvi arriscar. Mas, eu tinha apenas uma semana... Dediquei-me então naqueles dias a analisar as decisões dos três desembargadores da banca relativas aos últimos 12 meses. Fiz um dossiê sobre o pensamento de cada um. Vi um caso complicado que o Desemb. Tourinho tinha decidido, um acórdão de mais de 80 páginas que me chamou a atenção. Dediquei-me ao Desemb. Tolentino também. Eu tinha feito uma análise de todos os concursos do TRF da 1ª Região, do que tinham cobrado nas sentenças cíveis de cada um. Eu sabia que a chance era muito grande da sentença não ser de Administrativo, pois já tinham caído muitas sentenças dessa matéria. Então sobrava o Desemb. Tolentino. Ele decidia basicamente questões de tributário e previdenciário. Mas tributário já tinha caído. Faltava custeio previdenciário. Apostei cegamente que cairia custeio, vi decisões do examinador nessa matéria.
Segunda fase do TRF 1ª, sentença cível. Tema: custeio previdenciário. Fiz a prova com tranqüilidade.
Segunda fase do TRF 2ª: sentença penal. Tema: crimes federais, em um longo e extenso caso parecido com... o acórdão de mais de 80 páginas que o Desemb. Tourinho tinha redigido e eu tinha lido com atenção. Uma sentença extensa, muito bem criada, com temas novos e interessantes. Não foi porque eu tinha lido sobre o assunto, mas confesso que foi realmente uma proposição de sentença digna de um concurso para juiz federal. Criativa, completa, atual.
Só as questões é que me pegaram pelo pé. Eu não tinha lido o livro do Desemb. João Batista, apesar de estar com ele desde julho! Mas, eu sabia as linhas gerais das idéias do Desembargador. Não que ele tenha exigido o pensamento dele, porque em uma questão eu dissenti quase que totalmente e não saí mal. Resumindo: não é porque eu passei, mas a banca, na minha opinião, foi muito honesta e correta.
Início de novembro. Saí correndo (literalmente) do TRF 1ª e fui fazer as orais em Goiás. Nunca tinha feito uma prova dessas. Respirei fundo e pensei: o maior inimigo meu aqui sou eu mesmo e meu descontrole. Então, é só manter a calma.
Mantive. Passei. Graças a Deus!
Daí para frente, foi só estudo para as provas orais, porque eu fiz TRF 5ª e TRF 1ª. Aprendi que prova oral depende do seu conhecimento, mas o essencial é manter a calma. Sem ela, você impede a sua memória de funcionar. E, acredite em mim, a memória não te deixa só nessas horas. O que você estudou vem à mente, é só ter calma.
Meu estudo para a prova oral se resumiu basicamente à leitura dos resumos que as turmas (também ajudei) prepararam para as orais. Tais resumos são como ouro. Lê-los consome um tempão, mas dá uma base boa para as orais. Em algumas matérias, especialmente na véspera, dei uma olhada também na lei seca. Civil e Comercial costumam cobrar muito lei seca. Constitucional, dependendo da parte que for sorteada no ponto, também cai.
Estressei-me muito com o estudo para as orais. No TRF 5ª, eu estava no meu limite. Graças a Deus, consegui seguir adiante e fazer uma prova com calma.
Aliás, dois pontos importantes. Pensando em como estudar para as provas orais, vi que tinha que praticar. Mas como? Como eu faria isso? Minha esposa não era formada na área, não teria como. Pensei então em aproveitar a tecnologia disponível. Sim, o Skype! Convidei colegas e montamos um grupo de sabatinas semanais, três vezes, um sabatinando o outro, ao vivo, pelo Skype. O Marcos Garapa, anjo de todos os que fizeram a oral do TRF 1ª Região, foi um dos colegas. Ajudou-me bastante, com sua experiência em provas orais. Vários outros participaram, pessoas com quem fiz bons contatos e amizades. Treinar pelo Skype foi uma saída muito produtiva.
Último ponto: para o TRF 1ª, finalmente li o livro do Desemb. João Batista. Ao contrário do que alguns disseram, é um livro muito bom, inovador. Gostei, sem “puxa-saquismo”. É bom ver idéias novas.
Fiz as provas do TRF 5ª e TRF 1ª e passei.
Foi isso. Todo mundo me pergunta como é que eu fiz para passar em um concurso para juiz estadual e dois para juiz federal, em um ano de estudo. A resposta está aí acima. Escrever tudo isso foi até um desabafo, a última cena do último ato dessa peça chamada concurso.
Resumindo meu estudo, ele se baseou na resolução de questões fechadas, abertas e sentenças. Não fiz cursinho, não li grandes obras de doutrinadores famosos. Não foi por desprezo. Foi por falta de tempo, foi porque não consigo absorver muito lendo um livrão. Agora, vou recorrer aos grandes nomes para lidar com os casos práticos da magistratura federal.
Esse método de estudo funcionou muito bem para mim. Tenho colegas, porém, como o Eduardo Nunes, que se concentraram na leitura de obras doutrinárias e foram até melhor do que eu.
O que eu quero dizer, por fim, é que cada um tem que achar o seu próprio método de estudo. Se de um jeito não está dando certo, como ocorreu comigo em 2004, tente outro método. Mas não desista. Siga em frente. Há um certo momento na vida de cada concurseiro que diz se ele vai passar ou não. É aquele momento em que dá vontade de largar tudo, de queimar os livros, de chutar o balde. Quem atravessa esse momento, está destinado a passar, mais dia, menos dia. Nossa mente cansa antes do corpo – li isso uma vez. Se você dominar a mente, seu corpo consegue ir além nos estudos.
É isso. Um abraço a todos. Depois desse relato, que talvez seja o maior já escrito, encerro a minha participação. Peço desculpas pelos eventuais erros de português, é que escrevi de uma vez, um desabafo, sem corrigir.
Um abraço a todos e muito obrigado por esse tempo de convivência. Fiz muitos amigos nessa jornada de estudos, amigos que não esquecerei jamais.
Triangulino
(sim, é porque eu sou do Triângulo Mineiro)
Fonte: dedo de prosa
Resumo da Ópera: A determinação e a confiança em acreditar no sonho da magistratura, no sonho de ser juiz que o acompanhava desde a infância, fizeram dele juiz federal. E mais: conseguiu aprovação em três dificílimos concursos. Coisa rara hoje em dia.
Acreditar no sonho e na sua capacidade de alcançar é o primeiro passo para conquistá-lo. Por isso sempre ouço e "retuito" para todos: Nunca desista do seu sonho! Por mais que as barreiras tentem amedrontá-lo. Confie em Deus e busque o seu espaço com garra e determinação, sempre com a consciência de um VENCEDOR.
1 comentários:
Alexandre Henry Alves
é o cara.
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