terça-feira, 27 de abril de 2010

Leitores entrevistam o expert dos concursos públicos

Meus caros amigos universitários e concurseiros do blog Jornal Folha do Direito, esta entrevista com o Juiz Federal William Douglas, mais conhecido como "o guru dos concursos", foi publicada na Revista do Concurseiro Solitário. É uma revista digital idealizada por concurseiros que passaram pelo caminho das pedras e hoje contribuem levando muita informação para todos aqueles que buscam o mesmo objetivo.

Charles Dias, coordenador e editor da revista, começou escrevendo eu seu blog "concurseiro solitário" e criou uma espécie de auto-ajuda online, que só quem é concurseiro entende bem o que isso significa. Parabéns a todos pela excelente entrevista!!!

Ao final desta entrevista está o link da revista para que vocês leiam o conteúdo na íntegra. Vale a pena conferir!

WILLIAM DOUGLAS

Nesta primeira edição da revista digital do blog Concurseiro Solitário entrevistamos o juiz federal William Douglas. Se alguém não conhece esse nome, saiba que se trata, simplesmente, de uma das maiores referências no cenário dos concursos públicos, autor de alguns dos mais respeitados e vendidos livros voltados para quem estuda com o objetivo de conquistar uma vaga no serviço público.

William Douglas é um homem multimídia, pois atua em diversas vertentes profissionais. Além de ser juiz federal e bem-sucedido autor, ele também é palestrante, colunista em diversos websites especializados em concursos públicos, professor e também maratonista. Esse exconcurseiro, que exerce a titularidade da 4ª Vara Federal de Niterói (RJ), poderia muito bem ter escolhido se dedicar apenas à magistratura, deixando suas diversas aprovações em concursos públicos apenas como troféus de um ex-concurseiro, mas preferiu difundir seu conhecimento como forma de ajudar concurseiros de todo o Brasil em sua luta.


Durante a sua vida concurseira, qual foi a maior dificuldade que você enfrentou e o que fez para vencê-la? Hoje, como servidor público, você aplica a lição que obteve naquela superação?

A maior dificuldade era o medo de não conseguir. Eu ficava imaginando como seria se eu fizesse tudo – estudo, livros, cursos – e não passasse. Isso me deixava angustiado. Com o tempo e as reprovações isso foi se agravando e precisei lidar com esse sentimento. As reprovações por pouco
são interessantes porque, por um lado, te deixam mais desesperado e, por outro, mostram que você está melhorando. Outra coisa horrorosa é ter uma nota alta e algum tempo depois ela baixar. Isso também dá um estresse considerável. Mas, com o tempo, a gente vai aprendendo que tudo o que eu mencionei faz parte e vai relaxando, ficando na fila e esperando a vez enquanto nos aperfeiçoamos. É um processo de amadurecimento absolutamente necessário. Atualmente, a lição é aplicada sim: fazer o melhor e ser paciente. O que tiver que ser será... e eu posso influenciar no que vai ser.


Existem muitos estudantes que sonham com a magistratura federal, mas desistem porque ouvem histórias e folclores sobre o modo de preparação para esse concurso, sobre as provas orais intimidadoras. Alguns colocam o acesso a essa bela carreira como algo intangível, coisa que não é verdade. Como você bem coloca em sua obra, basta a quantidade certa de estudo e trabalho para passar em qualquer concurso público. Para desmistificar esse tipo de concurso, o que você pode falar sobre as peculiaridades dos estudos para as provas da magistratura?

Qualquer prova, de qualquer tipo, e qualquer banca são intimidadores apenas para quem não sabe a matéria ou não sabe fazer esse tipo de prova (oral, escrita, discursiva, Cespe, Esaf etc.),e/ou para quem não tem amadurecimento emocional para lidar com a pressão natural das
provas e concursos. Não acredito em concurso fácil nem difícil. Tudo é questão de preparação. Em geral, acham o concurso para juiz federal mais difícil do que o concurso para oficial de Justiça. Dou esse exemplo porque passei para juiz federal, bem colocado, e não passei para oficial de Justiça. Os dois cargos são honrosos e interessantes; os dois cargos têm vantagens e desvantagens... e os dois concursos são igualmente difíceis porque a dificuldade está no candidato bem ou mal preparado, e não no concurso em si. Então, se você se preparar bem, todo concurso
será passível de aprovação.


É fato que há pelo menos duas idades para os concurseiros. A primeira é a idade da inocência, na qual a pessoa acha que passar em concursos públicos não será tão difícil, não demandará muito estudo e também sacrifícios. A segunda idade é a da realidade, na qual o concurseiro tem consciência que precisa estudar muito sério, com muito planejamento, muita disciplina e ter muita determinação para poder “aguentar o tranco” até passar e ser empossado. Por que você acha que tantos “concurseiros inocentes” relutam em ter seus olhos abertos por concurseiros veteranos ou professores como você e dizem que relatos da realidade dura de estudar para concursos públicos são tentativas de “abalar a concorrência”, ou que são desmotivantes? Por que essa negação da realidade se somente prejudica quem pensa e age assim?

Pergunta muito interessante. Bem, o ser humano tem uma tendência à arrogância (que se manifesta de modo diferente nos veteranos e em quem passa nos concursos!) e também a desconfiar da pessoa do lado. Juntando as duas, mais o desconhecimento natural de quem está começando, acho que temos uma explicação razoável para o fenômeno. Mas o amadurecimento cura isso. Agora, se reparar, também tem quem entra (ou até deixa de entrar) no sistema achando que a coisa é impossível, é só para gênio ou “cartas marcadas”. Enfim, a época da inocência pode se manifestar de formas diferentes, mas a da maturidade só tem uma: saber que é um processo longo e trabalhoso, mas que pode ser feito... e que vale a pena. Mesmo assim, tem quem faz isso cuidando da saúde e quem a destrói (e isso se aplica à saúde dos relacionamentos também). E quem passe e use o cargo e a grana para ser mais feliz, ou quem não consegue fazer isso. Definitivamente, uma raça multivariada, essa nossa, a humana.


Hoje todos falam que há alguns anos era mais fácil passar em concursos públicos por conta de uma série de fatores (baixa concorrência, baixo preparo dos concorrentes, concursos pouco divulgados, entre outros). Gostaria de saber sua opinião sobre isso, pois assim como aumentou a concorrência, que está mais bem preparada, também houve avanço nos métodos e materiais de estudos.

Boa pergunta. Acho que aqueles que optaram pelo concurso logo no comecinho pegaram uma fase mais fácil, sim, com menos concorrência e questões mais simples. Isso mudou. Mas não tem como ir para o passado, então, vamos ter que enfrentar os desafios de nosso próprio tempo. E como tem gente passando, isso significa que é possível. Por outro lado, os cursos e livros melhoraram. Ok, isso ajuda a todos... Mas tem a notícia inquestionavelmente boa: as vagas estão aumentando, há muita circulação interna com servidores saindo de um cargo para outro e abrindo vagas e o número de aposentadorias é muito grande. O crescimento do País obriga a criação de novas vagas também. O MP e o TCU estão combatendo a terceirização e contratações temporárias, e órgãos que sempre se recusaram a fazer concursos estão tendo que implementá-los. No frigir dos ovos, a concorrência aumentou, mas as vagas ofertadas também.

Posso assegurar que as regras e princípios do meu tempo continuam as mesmas: se organizar, planejar, estudar, treinar e fazer as provas. Aprender a fazer as provas. Isso não mudou em nada. É o mesmo jogo. Se eu fosse fazer um concurso hoje, seguiria o mesmo roteiro. É o que está sendo feito por quem está passando hoje.


Como me preparar para enfrentar as cinco horas de provas de um concurso público? É verdade que nosso pico de rendimento suporta uma hora e após ele vai decaindo? Como raciocinar quando a dor nas costas chega, o cansaço ataca? Em suma, quais são suas dicas para o concurseiro enfrentar o dia da prova? Existe preparação prévia para isso assim como há para os estudos?

Mantendo a cabeça e o corpo em bom estado antes e durante a prova e o moral alto. O rendimento começa a cair depois de uma hora, mas quem tem treino pode aguentar mais tempo e impedir que esse processo seja contínuo. Ou seja, com intervalos podemos interromper o ciclo de queda e retomar nosso rendimento. A dor nas costas e o cansaço são resultados de um estado emocional ruim e/ou de sedentarismo. Se você seguir o WDPTS que tenho no meu site, gratuitamente, ou qualquer outro plano de condicionamento físico, isso será muito melhorado, ou seja, você vai se sair bem melhor. Outra dica é treinar fazer as provas antes (durante 5 horas), fazendo simulados em casa ou nos cursos. Eu treinava passar uma hora a mais fazendo provas para ficar com maior resistência. Assim, na quinta hora eu ainda tinha treino para mais uma! E, claro, fazer os intervalos nos estudos e na prova ajuda bastante. Por fim, a alimentação leve e rica na véspera e no dia da prova também ajuda. Outros fatores a serem considerados são água, alimento e roupas no dia da prova, pois influenciam também. E nada influencia mais do que estar feliz por estar ali fazendo uma prova de onde se sai aprovado ou com um relatório de onde melhorar para a próxima.


Quais mudanças na pessoa de William Douglas ocorreram entre o período de fracassos em concursos e o de sucesso neles?

Muitas, camarada, muitas mesmo! Todo projeto exige um processo de amadurecimento, preparação e superação. Vivi isso nos concursos e depois para correr a maratona (No livro A maratona da vida, conto um pouco da minha história). Essas mudanças também aconteceram para lidar com o câncer de minha mãe e com meu divórcio. O interessante é que, com o tempo e a soma de todas essas experiências, a gente vai ficando mais autoconfiante. Eu diria que aprendi a lidar com minhas dificuldades e a aproveitar o que tinha para me ajudar, tanto no plano interno, quanto no externo, e até mesmo no divino.


Como ser concurseiro se você está desempregado, com o nome negativado por inadimplência financeira, sem dinheiro?

Não é fácil lidar com essas dificuldades, mas espero que elas estimulem você a estudar para concursos, até porque é um excelente caminho para dar uma virada nesse jogo. Existem muitos meios gratuitos para estudar. Bibliotecas, internet, material emprestado... e até trocar trabalho por bolsa de estudo nos cursos preparatórios. Se a pessoa tem força de vontade e iniciativa e procurar ajuda, vai encontrá-la. E após o concurso vai conseguir estabilizar a situação pessoal e financeira, com certeza.


Como você conceitua a “sorte” em concurso público?

A sorte, como soma de fatores aleatórios favoráveis em determinado momento, ajuda a pessoa a conseguir alguma coisa. Se estamos em uma prova, ela vai aumentar a nota. Em tese, também seria “sorte” haver uma vaga só e o primeiro colocado ser aprovado para outro concurso e ir tomar posse nele.

Mas vamos reduzir o assunto à nota. A sorte aumenta, e o azar diminui, a nota. Se a pessoa está muito fraca, a sorte não fará a nota subir o suficiente para passar, e se estiver bem, o azar não vai retirá-la da lista de aprovados. Porém, para quem está no ponto médio, esse fator influencia.

Existem dois conceitos de sorte que são interessantes, e você os acha nos livros de PNL (Programação Neurolinguística) e de motivação. O primeiro é que a sorte acontece quando a oportunidade encontra a pessoa preparada. Ou seja, não adianta apenas ter sorte, é preciso se preparar. Isso é animador: estude, treine, e você "ajudará" a sorte a te ajudar. O outro acontece quando a pessoa pensa: “Gozado, quanto mais me preparo/trabalho, mais sorte eu tenho”, ideia que confirma a anterior e dá um passo adiante.

Eu acredito que alguém pode dar sorte sem ter se preparado ou sem trabalho, mas essa sorte, em geral, não adiantará muita coisa, não garantirá nada, não é autossustentável.

Também creio que sorte e azar são aleatórios, de modo que quem tiver sorte hoje, pode ter azar amanhã e o inverso. Então, não podemos contar com isso. Mas também vale anotar que o que pode parecer sorte ou azar muitas vezes é autoprogramação e indução mental. Uma pessoa otimista e que pensa positivo terá mais sorte, acredite. Isso é influenciável em parte. As religiões e a Física me dão razão nessa notícia que passo a vocês. Por fim, considero que o azar, como qualquer revés, derrota ou fracasso, podem ser muito úteis se deles extrairmos as lições que oferecem gentilmente.


O que o William Douglas de hoje falaria para aquele William Douglas garoto de anos atrás, que decidiu prestar o primeiro concurso (acredito que para o Colégio Naval)? Que conselhos daria a ele? O que diria para ele fazer diferente?

Esta é a pergunta mais criativa. Do ponto de vista de serem boas perguntas, todas são, mas esta é quase filosófica. Para o William do Colégio Naval eu diria que ele lesse meu livro Como passar em provas e concursos. Estou certo que ele, mesmo inexperiente, olharia o livro como algo a ser estudado, praticado, assimilado... e o essencial está lá. Mas talvez o melhor seria dizer para ele curtir mais a mãe, que morreria de câncer, e a adolescência e juventude, que passam muito rápido. Eu diria que é possível ter sucesso sem sacrificar tanto, desde que se siga alguns princípios. Que ser feliz é importante, desde já, imediatamente. E também diria a ele que, mesmo que fosse difícil para ele acreditar naquele momento, há garotas que se interessam mais pelos nerds do que pelos atletas musculosos e sarados (risos). Bem, fora essas dicas, ainda faria mais uma coisa: não sei se o William entenderia isso naquela hora, mas daria para ele, numa tirinha de papel, algo citando Guimarães Rosa: “O real não está na saída e nem na chegada, está na travessia”.


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